sábado, 24 de abril de 2010

BRASIL: VOCAÇÃO NATURAL E VONTADE DE POTÊNCIA

Olá galera,
deixo um texto para continuar o "DEBATE ABERTO", apresentando um texto do Professor José Luís Fiori, que de certa forma complementa nossa discussão sobre a posição do Brasil, no contexto sul-americano. Segue o endereço eletrônico.
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4554&boletim_id=652&componente_id=10894  – 03 mar 2010


Por imposição geográfica, histórica e constitucional, a prioridade número um da política externa brasileira sempre foi a América do Sul. Mas hoje é impossível o Brasil sustentar os seus objetivos e compromissos sul-americanos, sem pensar e atuar simultaneamente em escala global.

José Luís Fiori

Costuma-se falar de uma “vocação natural” dos países e dos povos, que estaria determinada pela sua geografia, pela sua história e pelos seus interesses econômicos. Mas ao mesmo tempo, sempre existiram países ou povos, que se atribuem um “destino manifesto” com o direito de ultrapassar os seus limites geográficos e históricos, e projetar o seu poder para além das suas fronteiras, com o objetivo de converter, civilizar ou governar os demais povos do mundo.

Entretanto, quando se estuda a história mundial, o que se descobre é que nunca existiram povos com vocações inapeláveis, nem países com destinos revelados. Descobre-se também, que todos os países que projetaram seu poder para fora de si mesmos, e conseguiram se transformar em “grandes potências”, foram em algum momento países periféricos e insignificantes, dentro do sistema mundial. E se constata, alem disto, que em todos estes casos de sucesso, existiu um momento em que havia uma distância muito grande entre a capacidade imediata que o país dispunha, e a sua vontade ou decisão política de mudar o seu lugar dentro da hierarquia internacional.
 
Uma distância objetiva, que foi superada sem voluntarismos extemporâneos, por uma estratégia de poder competente que soube avaliar em cada momento, o potencial expansivo do país, do ponto de vista político, econômico e militar. Donde se deva deduzir que existe uma “vontade de potência” mais universal do que se imagina, e que de fato o que ocorre é que a própria natureza competitiva e hierárquica do sistema impede que todos tenham o mesmo sucesso, criando a impressão equivocada de que só alguns possuem o destino superior de supervisionar o resto do mundo.
 
Por imposição geográfica, histórica e constitucional, a prioridade número um da política externa brasileira sempre foi a América do Sul. Mas hoje é impossível o Brasil sustentar os seus objetivos e compromissos sul-americanos, sem pensar e atuar simultaneamente em escala global. Partindo do suposto que acabou o tempo dos “pequenos países” conquistadores (como Portugal ou Inglaterra, por exemplo), e que o futuro do sistema mundial dependerá, daqui para frente, de um “jogo de poder” entre os grandes “países continentais”, como é o caso pioneiro dos EUA, e agora será também, o caso da China, da Rússia, da Índia e do Brasil, excluída a União Européia enquanto não for um estado único.
 
Neste jogo, os EUA já ocupam o epicentro e lideram a expansão do sistema mundial, mas os outros quatro países possuem por si só, cerca de um quarto do território, e quase um terço da população mundial. E todos os quatro estão disputando hegemonias regionais, e já projetam – em alguma medida - seu poder econômico ou diplomático, para fora de suas próprias regiões.

Pois bem, o que se deve esperar, na próxima década, é que a Rússia se concentre na reconquista do seu antigo território e de sua zona de influencia imediata; que a expansão global da China se mantenha no campo econômico e diplomático; e que a Índia siga envolvida com a construção de barreiras e alianças que protejam suas fronteiras, ao norte, onde se sente ameaçada pelo Paquistão e pelo Afeganistão, e ao sul, onde se sente ameaçada pelo novo poder naval da própria China.

Deste ponto de vista, comparado com estes três “países continentais”, o Brasil tem menor importância econômica do que a China e muito menor poder militar do que a Rússia, e que a Índia. Mas ao mesmo tempo, o Brasil é o único destes países que está situado numa região onde não enfrenta disputas territoriais com seus vizinhos, e por isto, é o país com maior potencial de expansão pacífica, dentro da sua própria região. Além disto, é o único destes países que contou – até aqui - com uma dupla vantagem com relação aos outros três, do ponto de vista de sua presença fora do seu próprio continente: em primeiro lugar, o Brasil usufruiu da condição de “potência desarmada”, porque está situado na zona de proteção militar incondicional dos Estados Unidos; e em segundo lugar, o Brasil usufruiu da condição de “candidato-herdeiro” à potência, porque é o único que pertence inteiramente à “matriz civilizatória” dos Estados Unidos.
 
Por isto, aliás, a expansão da influência brasileira tem seguido até aqui, a trilha que já foi percorrida pelos Estados Unidos, e pelos seus antepassados europeus. Mas, além disto, é fundamental destacar que o Brasil contou neste período recente com a liderança política de um presidente que transcendeu seu país, e projetou mundialmente sua imagem e sua influencia carismática. Como passou em outro momento, e numa outra clave, com a liderança mundial de Nelson Mandela, que foi muito além do poder real, e da influência internacional, da África do Sul.

Neste sentido, o primeiro que se deve calcular com relação ao futuro brasileiro, é que o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representará, inevitavelmente, uma perda no cenário internacional, como aconteceu também com a saída de Nelson Mandela. Com a diferença que o Brasil já está objetivamente muito à frente da África do Sul. Assim mesmo, para seguir adiante pelo caminho que já foi traçado, o Brasil terá que fazer pelo menos duas opções fundamentais e de longo prazo.

Em primeiro lugar, terá que decidir se aceita ou não a condição de “aliado estratégico” dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França, com direito de acesso à tecnologia de ponta, mas mantendo-se na zona de influencia, e decisão militar dos Estados Unidos. Caso contrário, o Brasil terá que decidir se quer ou não construir uma capacidade autônoma de sustentar suas posições internacionais, com seu próprio poder militar. Em seguida, o Brasil terá que definir a sua visão ou utopia, e o seu projeto de transformação do sistema mundial, sem negar sua “matriz originária” européia, mas sem contar com nenhum “mandato” ou “destino”, revelado por Deus ou quem quer que seja, para converter, civilizar ou conquistar os povos mais fracos do sistema.
 
De qualquer forma, uma coisa é certa: o Brasil já se mobilizou internamente e estabeleceu nexos, dependências e expectativas internacionais muito extensas, num jogo de poder que não admite recuos. Nesta altura, qualquer retrocesso terá um custo muito alto para a história brasileira.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF-RJ).

segunda-feira, 29 de março de 2010

DEBATE ABERTO: BRASIL!

"A posição do Brasil perante o mundo, a América Latina e, em particular, o subcontinente sulamericano conduzirá nosso país à berlinda: ou aceita-se esta liderança, que se coloca natural, ou será substituído por outra nação. Ante sua posição territorial, suas reservas minerais, especialmente, ferro e petróleo, sua produção no campo com o agronegócio, além do seu crescente mercado consumidor, o Brasil situa-se como o principal interlocutor das aspirações e interesses dos países latino-americanos e do grupo de países que assumiram, nos últimos anos, uma vanguarda em relação aos países desenvolvidos. China, Rússia, Índia e Brasil (BRIC) assumem uma possibilidade de negociação nunca vista antes, ameaçando o predomínio da França, Inglaterra, Alemanha, Japão e mesmo dos Estados Unidos e sua política econômica de mão única, sempre priorizando os interesses dos oligopólios que representam, como se deu com o México e sua inclusão no NAFTA (North American Free Trade Agreement). Aqui, os Estados Unidos tornaram-se o principal parceiro comercial dos mexicanos. O Brasil, ao contrário, optou por tornar-se um global trader, priorizando a busca por múltiplos parceiros comerciais, diminuindo a nossa dependência da economia estadunidense que já representou mais de quarenta por cento (40%) das nossas exportações e atualmente coloca-se entre quinze por cento (15%) e dezessete por cento (17%). Assim, como proteger estas riquezas e este povo? Como proteger-se, o Brasil, da ganância dos países ricos, como é o caso da internacionalização da Amazônia?  E o pré-sal? É inevitável continuar submisso aos interesses das grandes potências ou pode-se tentar uma posição mais independente, garantindo aos brasileiros o gozo do que a natureza lhe ofereceu? Há mais perguntas, mas as deixo para Valter Cal, meu caro aluno, que indaga sempre sobre a posição do Brasil, especialmente, no atual governo. E aí Cal, que rumo pode-se dar à nossa política externa: independência ou submissão?

Abraços a todos,

MR

quarta-feira, 17 de março de 2010

3ª Série "A" do Ensino Médio - Colégio São José




3ª Série "B" do Ensino Médio - Colégio São José

quarta-feira, 10 de março de 2010

FRASES PARA ENTENDER A VISÃO GEOGRÁFICA

"Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único." ("Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal")
(MILTON SANTOS – geógrafo)

“A ciência geográfica não pode desprezar o elemento histórico, se pretende ser verdadeiramente um estudo do território e não uma obra abstrata, uma moldura através da qual se veja o espaço vazio...”
(KARL RITTER, 1833)

“Em Geografia, como na maioria das ciências, o detalhe é que faz a diferença, não basta conhecer a regra geral. Os processos mnemônicos compõem quaisquer saberes, mas ser capaz de projetar (reproduzir e produzir) mentalmente os fenômenos geográficos é essencial no aprendizado. A “decoreba geográfica” faz parte de uma mentalidade vencida – o futuro é a reflexão do pensar o espaço geográfico e suas íntimas relações.”
(MANOEL ROCHA – 12/06/2002)

“Pelo menos, em princípio, o professor tem mais experiência e conhecimentos que o aluno. portanto, ele ensina e o outro aprende. Está justamente nesta desigualdade de competência a origem da autoridade do professor. Autoridade verdadeira, sem autoritarismo ou dogmatismo”.
(Prof. LUIZ ERLON ARAÚJO RODRIGUES – Instituto de Ciências da Saúde – UFBA)

Quem sou eu

Minha foto
Professor das redes pública (estadual e municipal) e particular, atuando como docente na Escola Estadual Gov. Roberto Santos, Instituto Municipal de Educação José Arapiraca (IMEJA), Colégio São José e Colégio Salesiano (Nazaré), onde se encontra em licença sem vencimentos. Formação Profissional: Licenciatura Curta e Plena em Estudos Sociais, com habilitação em Geografia, História e Educação Moral e Cívica pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); Bacharel em Ciências Jurídicas pelas Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pós-graduações: em Geografia Econômica pela Fundação Severino Sombra, Vassouras – RJ, e Metodologia e Didática do Ensino Superior, pela Faculdade São Bento, Salvador, Bahia (concluinte) e, atualmente, estudante do Curso de Bacharelado em Geografia, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia – UFBA.